LUÍS CORCEIRO | ADVOGADO
 Perante tal catástrofe irresponsável, há já quem fale em novas eleições, que o Povo irá varrer do poder toda a ganga da direita e da extrema-direita que, falando em “limpar” Portugal, o atolou no lodo e afundou na miséria.
Perante tal catástrofe irresponsável, há já quem fale em novas eleições, que o Povo irá varrer do poder toda a ganga da direita e da extrema-direita que, falando em “limpar” Portugal, o atolou no lodo e afundou na miséria.
A partir das zero horas deixaram de existir imigrantes em Portugal! Os últimos voos deixaram os aeroportos do Porto, Faro e Lisboa em direcção ao Rio de Janeiro, Luanda, cidade da Praia, Londres e Nova Deli, as capitais das cinco nacionalidades mais representativas de imigrantes que povoaram o País. Um minuto antes das zero horas, a família nepalesa de Tanka Sapkota – dono e chef dos restaurantes lisboetas de renome “Come Prima”, “Forno d'Oro”, “Il Mercato” e “Casa Nepalesa”, o mesmo que descobriu, contra tudo e todos, que Portugal também produz trufas, o ouro da alta cozinha – deixou a fronteira de Vilar Formoso, com família a amigos, em direcção a Itália, país que o acolheu antes de escolher Portugal.
A AIMA declara-se aliviada, sentimento transversal aos serviços da Autoridade Tributária, da Segurança Social, dos Registos e Notariado, dos tribunais administrativos e das autarquias, que agora se podem ocupar só dos nacionais. Todos respiram fundo, e os primeiros funcionários públicos são dispensados. O País vê-se, finalmente, livre dos cerca de 1,5 milhões de imigrantes. Num ápice, 15% da população desapareceu.
Os dirigentes políticos da direita radical, encartados populistas de papelão, multiplicam-se em declarações de regozijo, entre a euforia e gritos de vitória. Foi uma “limpeza” exemplar! Exultam a incapacidade da Suíça (31,2% de imigrantes) e do Luxemburgo (51,2%) para fazerem o mesmo, ainda que, neste pequeno país, tal medida atingisse os portugueses, 20% dos habitantes.
TRABALHOS SUJOS, DESAGRADÁVEIS, PESADOS E MALCHEIROSOS
Lisboa (-432 mil), Faro (-125 mil), Setúbal (-106 mil) e Porto (-97 mil) são os distritos mais despovoados. Contudo, manteve-se a falta de oferta em habitação para jovens casais e estudantes a preços comportáveis, porque as habitações desocupadas, em regra precárias, não entraram no mercado da oferta. Acabou a extorsão por um “buraco” para dormir. Mas as cidades respiram, quase sem TVDE nem estafetas de entregas de pronto a comer a acotovelarem-se nas ruas, nem transportes públicos dos subúrbios apinhados de imigrantes a caminho do trabalho. Finalmente, postos de trabalho libertados para os nacionais, disseram uns e pensaram outros.
Logo pela manhã, espalham-se notícias alarmantes. São afixados anúncios de “aceitam-se empregados”… que não aparecem. Nas caixas dos supermercados fazem-se filas e as reposições não acompanham o consumo, com prateleiras vazias porque nos centros de logística os camiões ficaram parados. 
Nos aeroportos não há quem movimente as bagagens. Mas o melhor dos impactos sente-se na construção civil e obras públicas. Os empreiteiros procuram, em vão, pessoal capaz e disponível, que não há. O mesmo nos restaurantes, que fecharam portas, e em lojas dos centros comerciais, sem pessoal para os turnos. A bazuca do PRR está nas lonas.
Nas limpezas, os salários-hora triplicaram, mas não há quem as faça. Nalguns hotéis são os hóspedes que fazem as camas, e nos cafés e restaurantes ainda abertos não há serviço de mesa. Os nacionais, “puros” e impuros, têm que fazer de tudo: trabalhos sujos, desagradáveis, pesados, monótonos e malcheirosos…
PORTUGAL SEM PESSOAS E SEM FUTURO
Entretanto, as confederações patronais (CIP, CCP e CAP) começaram a movimentar-se, havendo centenas de empresas em risco súbito de insolvência, e campos de cultivo e estufas em vias de desaparecerem por falta de trabalhadores.
Fala-se numa reunião de crise de emergência para atalhar ao iminente défice alimentar, ao descalabro da economia e ao inevitável encerramento de unidades de saúde, dependentes de imigrantes.
A improvisação e a típica falta de planeamento latina – que nem os mais avisados e cultos imigrantes especializados agora expulsos conseguiram contrariar – confirmam as piores previsões: redução drástica das contribuições para a Segurança Social (1) e queda na arrecadação de impostos. Dão-se conta agora que os imigrantes trabalham e geraram cerca de 13 mil milhões de euros de riqueza (PIB), contribuindo com 116 milhões de euros em IVA em 2022. Tal quebra da receita fiscal irá ter de implicar, fala-se, uma revisão do Orçamento do Estado para aumento de impostos.
Prevê-se ainda uma acentuada quebra da procura interna e correspondente inflação de preços ao consumidor. No presente contexto, CIP, CCP e CAP insistem na redução de salários. O Governo, como sempre o fez, equaciona de novo cortes em pensões, prestações sociais e demais “gorduras” habituais. A riqueza a distribuir ficou bem menor, e os ricos ficam mais ricos e os pobres mais pobres.
Pior que tudo, a nossa demografia colapsou: perda de 1 em cada 7 pessoas; quebra de 20% da natalidade; idade média da população disparou para mais de 50 anos; declínio da população a ponto de, em 15 anos, não haver trabalhadores para garantir a viabilidade do País. Jovens casais fazem as malas e emigram. A prazo, um Portugal sem pessoas e sem futuro.
Perante tal catástrofe irresponsável, há já quem fale em novas eleições, que o Povo irá varrer do poder toda a “ganga” da direita e da extrema-direita que, querendo “limpar” Portugal, o atolou no lodo e afundou na miséria.
Surge um grito: inscrever na Constituição o direito a não emigrar, isto é, a cada um ter as condições para permanecer na sua própria terra.
(1) Para 2024, estimar-se-ia uma perda de 3645 milhões de euros em contribuições para a Segurança Social que os imigrantes teriam deixado de pagar, com um saldo líquido positivo de 2958 milhões de euros.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
